Uma mudança na Constituição publicada nesta quinta (17) pelo Congresso abre brecha para que agentes de trânsito possam parar carros, pedir documentação, fazer blitze e até andar armados. Outro projeto de lei, aprovado no Senado na quarta (16) e que vai para sanção da presidente Dilma, prevê dar poder de polícia ostensiva a guardas-civis municipais. Os dois casos, segundo especialistas, estão em um contexto de criação de novas polícias, a cargo dos municípios e sem estrutura militar. Mas eles alertam para o perigo de haver disputa entre as "novas polícias" e a Polícia Militar. No caso dos agentes de trânsito, a categoria foi incluída no artigo da Constituição que trata da segurança pública. Pelo texto, a segurança nas vias como um todo -e não só a ordenação do trânsito- passa a ser responsabilidade de agentes de trânsito municipais e estaduais. Hoje, os agentes já têm poder de polícia administrativa -podem multar, sem abordar. Segundo Reno Ale, presidente do Sindviários (entidade dos agentes de trânsito em SP), a mudança na Constituição, como foi feita, atende aos sindicatos de outros Estados, que têm feito lobby para os agentes andarem armados. "[O agente] Só poderia estar armado se estivesse dentro da questão de segurança pública. Abriu brecha", diz. O sindicato paulista, segundo Ale, é contrário à ideia. Novas atribuições e armamento ainda dependem de regulamentação em lei, mas especialistas alertam que, se houver demora, alguns municípios podem se antecipar. "A dramaticidade é começar a fazer coisas que a PM vai reclamar que é dela", diz Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança. Já para o coronel reformado José Vicente da Silva, as mortes no trânsito -46 mil em 2012, pelo Mapa da Violência- justificam a mudança. "Nosso trânsito precisa de mais autoridade. O poder de polícia ajuda a aumentar a capacidade de resposta", diz. O Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e a CET não se pronunciaram. GUARDAS MUNICIPAIS O projeto sobre os guardas-civis incumbe-os de preservar a vida, fazer "uso progressivo da força", "patrulhamento preventivo", detenções e preservação de locais de crime- atribuições da PM. Atualmente, os guardas protegem os bens do município. Reivindicação da categoria, o projeto é elogiado pelo secretário da Segurança de São Paulo, Fernando Grella, por "aumentar a ostensividade". "A única preocupação é saber qual vai ser o formato para conviver com a PM. Se houver uma disciplina bem-feita, não há problema", diz. Por outro lado, o projeto gera críticas da Associação dos Oficiais da PM paulista. "Onde todos têm a missão de fazer a mesma coisa [PMs e guardas], a responsabilidade pela omissão não recai em ninguém", afirma o coronel da reserva Sergio Payão. Folha de São Paulo - REYNALDO TUROLLO JR.
Paraguaçu Paulista