Entrevista

Saúde - Segunda-feira, 12 de Abril de 2021


Entrevista

                                        Psicólogo relata desafio de cuidar da linha de frente na ala Covid da Santa Casa


Apesar da pandemia causada pela Covid-19 afetar negativamente a saúde mental de profissionais de saúde, A Santa Casa de Paraguaçu não tem muitos afastamentos de quem está atuando na linha de frente. O suporte psicológico tem sido fundamental para enfrentar todo o desgaste emocional que a doença causa. 

 

Há 15 anos trabalhando como psicólogo da Santa Casa de Paraguaçu Paulista, Iris Vieira da Silva, conta que o atendimento prestado aos profissionais tem sido in loco e diário. Desde o início da pandemia, Iris tomou a decisão de vivenciar o dia a dia na UTI Covid. "Viver na pele o que os profissionais estão vivendo foi fundamental para o processo de acolhimento deles", afirma.

 

Atender dentro da UTI fez com que Iris presenciasse momentos de muita dor. "Mais de uma vez tive que realizar acolhimento a equipe ao ver profissionais completamente abalados e muito sensibilizados ao perder pacientes", revela. 


O ambiente da UTI Covid, descreve o psicólogo, é rodeado de tristeza pela constante sensação de despedida. Mesmo diante desse cenário, ele ressalta que os profissionais da linha de frente têm sido menos afetados com a tensão do que os profissionais que atuam indiretamente no enfrentamento à Covid-19, devido a adaptação á situação. 

 

A explicação, de acordo com ele, está no fato de que aqueles que estão mais suscetíveis à contaminação, são também os que desenvolveram ao longo da profissão resistência psicológica às situações difíceis. "Quem está ali, escolheu estar ali e tem uma certa coragem para lidar com os riscos", analisa. Iris lembra que, logo no inicio da pandemia, houve uma seleção entre os profissionais para definir quem tinha estrutura para atender os leitos Covid e os que precisariam ser remanejados para outros setores. A maioria escolheu permanecer.

 

Nesse um ano de pandemia, Iris notou que profissionais fora da linha de frente começaram a apresentar mais desgastes emocionais. "A grande circulação de pessoas no hospital e o fato de não saber quem está ou não com Covid gerou muito estresse nessas pessoas". Com a vacina, foi constatada a sensação de mais segurança no ambiente. 
 

Entre os sentimentos negativos apresentados nesse período pelos profissionais, o medo de passar a doença para a família sempre foi, segundo Iris, o mais comum. Em seguida, vem o esgotamento por trabalharem com a perspectiva de piora e colapso do sistema de saúde. "Muitos alegam que o barulho da UTI não sai da cabeça e também temos casos de falsa sensação de falta de ar", exemplifica. Apesar da emoção à flor da pele, o psicólogo, que oferece suporte 24h aos profissionais, diz que a gestão da saúde mental das equipes tem ajudado a se desligarem do caos quando estão fora do hospital. 

 

A humanização do atendimento também tem passado pelo suporte ao paciente e familiares. O psicólogo, que perdeu o pai para a Covid-19 ano passado, sabe da importância do acolhimento em meio ao distanciamento e de estar constantemente recebendo informações do paciente. "Meu pai faleceu em Rondonópolis e nos enviavam mensagens confusas durante a semana e com termos técnicos pelo celular. Isso gerava ainda mais dor", afirma. 


Em meio a situações de caos, o psicólogo recorda momentos que lhe trouxeram esperança como quando um jovem paciente da UTI revelou que a internação lhe ensinou a olhar para as pessoas com mais atenção. "Ressignificamos muita coisa nesse período. Acredito que a Covid age no emocional assim como no organismo atacando a parte mais fragilizada. É o momento de olhar para nossa área mais frágil com atenção e fortalecê-la".

 

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