Carla Andrade trabalha há 10 anos na Santa Casa de Paraguaçu, 8 anos e meio como Enfermeira. Iniciou como atendente de farmácia e hoje é responsável técnica pela equipe de Enfermagem do hospital. Desde o início da pandemia, ela atua na UTI Covid e conta que os profissionais estão enfrentando o período mais difícil da pandemia de coronavírus. Na Semana da Enfermagem, Carla afirma em entrevista que a alma da profissão é a empatia. “É impossível atuar na Enfermagem de forma automática”, diz.
Repórter: Como foi para você quando anunciaram o início da pandemia no Brasil? Sendo da área da saúde, você tinha noção do que poderia vir acontecer?
Carla: Parecia algo distante, nunca imaginava chegarmos ao ponto em que estamos hoje e presenciar esse caos que estamos vivendo. Não estava dentro da nossa expectativa o que ainda estava por vir neste ano. Eu acreditava que até o final de 2020 estaríamos reduzindo os casos. Mas não foi o que aconteceu.
De lá para cá, o que mudou? Como você classifica em termos de ambiente de trabalho o primeiro ano de enfrentamento e o atual?
Do primeiro ano para 2021, o esgotamento físico e mental é o que mais tem pesado. Mudou muito nossa realidade, principalmente sobre o ambiente de trabalho. Vejo no olhar de cada um da equipe o cansaço físico e mental, principalmente agora, em que as internações são de pessoas mais jovens. As solicitações de vagas que não podemos atender, tudo isso tem pesado muito para todos. Apesar de todo o preparo após um ano inteiro intenso, agora o que pesa é o cansaço devido à a ala Covid lotada.
De todos os momentos que vocês viveram até agora, qual foi o mais marcante?
Sempre tento estar de bom humor. É muito difícil ter isso nesse momento. Mas tenho por obrigação tentar manter a equipe de pé. Dos momentos mais marcantes para mim, foi quando perdemos duas profissionais da Enfermagem de outros municípios, mas que doeu da mesma forma, porque elas desenvolviam o mesmo trabalho que desenvolvemos e se doaram neste momento. As perdas de pessoas de uma mesma família também marca sempre nossa equipe.
Como você descreveria a Enfermagem?
Acredito que não sou eu que escolhi a enfermagem. A Enfermagem escolhe a gente. Lidar com o público não é para qualquer um, lidar com o público doente é pior ainda. Deus nos capacita a cada dia para fazer a diferença na vida de alguém. A Enfermagem está em todos os momentos na vida de uma pessoa, desde o nascimento até a morte. Não posso nem falar da Enfermagem que eu choro porque me emociono toda vez que falo a respeito.
A atuação da enfermagem é o grande pilar de enfrentamento à pandemia. Mas sabemos que tem sido um trabalho incansável em meio a muitas dificuldades. Olhando o cenário da saúde agora, o que fica de aprendizado?
Por mais capacitados que estivermos, só pedimos a Deus que não precisemos mais enfrentar outra situação como esta. Creio que a lição que levaremos de tudo isso é a empatia. A Enfermagem tem isso de se colocar no lugar do outro. Que a gente não aja no automático, é impossível atuar no automático na nossa profissão. Que tenhamos um olhar diferenciado para cada paciente que passar por nós. Que nos aproximemos mais de Deus. Precisamos crer mais e ter mais empatia pelo próximo.
Paraguaçu Paulista